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A Força de Trabalho e a Produção de Cana-de-Açúcar no Município de Serrana, SP

Este artigo resulta de uma revisão de pesquisa realizada no período de 2002 a 2005 sobre o município de Serrana, localizado na Região Administrativa de Ribeirão Preto, cuja característica é o desenvolvimento do campo de maneira altamente moderna, com utilização maciça de capital e tecnologia.

Este artigo resulta de uma revisão de pesquisa realizada no período de 2002 a 2005 sobre o município de Serrana, localizado na Região Administrativa de Ribeirão Preto, cuja característica é o desenvolvimento do campo de maneira altamente moderna, com utilização maciça de capital e tecnologia. Dentre algumas características de Serrana, elencamos analisar as que nos ajudam na compreensão dos impactos desta modernização no campo para a força de trabalho, enfatizando a mão-de-obra da mulher.

Serrana insere-se nesta área representativa do Brasil agrícola moderno. Sua principal produção acompanha a tendência da região, especializada no cultivo de cana-de-açúcar para produção de açúcar e álcool. Assim sua configuração territorial resulta de processos que respondem à lógica externa, regional e global, as quais se somam às rugosidades locais, em uma combinação única.

Criado em 1948, quando foi desmembrado do município de Cravinhos, Serrana nasce sob a égide da agroindústria canavieira, aí presente nas figuras da Irmãos Biagi S/A (Usina da Pedra) e da Usina Nova União. Ambas responsáveis por parte significativa da dinâmica econômica do município, fato que lhes confere poder político, pois o poder público, dependente do capital por elas gerado, abre mão de suas responsabilidades sociais e lança mão de políticas que as beneficiam.

Enquanto recurso, o território usado em Serrana é, para os atores hegemônicos da agroindústria canavieira, ao mesmo tempo, celeiro de mão-de-obra e terreno para o cultivo de cana-de-açúcar.

A Usina da Pedra é a empresa de maior capital, portanto, possui maior possibilidade de usufruir das tecnologias empregadas à produção, ao contrário da Usina Nova União. Entretanto, esta última, justamente por sua menor quantidade de capital, é responsável por empregar maior número de trabalhadores (as). Trata-se, portanto de um caso que nos evidencia a baixa capacidade de geração de empregos das técnicas altamente modernas de produção.

Em um município que recebe anualmente grande quantidade de migrantes de áreas mais pobres do país para o trabalho na safra da cana-de-açúcar (a qual vai aproximadamente de maio a novembro), os impactos das técnicas supracitadas são intensos. Há um processo bastante significativo de diminuição do engajamento da força de trabalho no eito, tanto para homens quanto para mulheres. Porém, este é acompanhado pelo aumento da masculinidade no campo, pois somente os homens operam as máquinas. Às mulheres restam principalmente as atividades da entressafra, como o plantio, descarte, coleta dos pedaços de cana deixados pelas máquinas e guinchos.

Cabe destacar que, de maneira geral, os contratos são realizados de acordo com a atividade a ser desenvolvida, assim pode ser por diária, por salário ou por produtividade. Quando o contrato é realizado por salário, a remuneração das mulheres costuma ser inferior à dos homens.

Há em Serrana um significativo número de mulheres trabalhando na lavoura canavieira, todavia a presença masculina como força de trabalho é bem maior. Oportunamente, cabe atentarmos que na década de 1970 quase 50% de uma turma era composta por mulheres, hoje, porém, uma turma possui em torno de quatro mulheres.

O processo de diminuição do engajamento das mulheres foi acompanhado de um discurso legitimador o qual se transforma ao sabor das relações de trabalho existentes. Ou seja, o discurso em relação à mulher adequa-se aos interesses do capital. Dessa maneira, muitas vezes se apóiam em idéias arcaicas, por exemplo, nos momentos em que há necessidade é comum se ouvir que as mulheres trabalham tão bem quanto os homens, todavia, quando se pretende excluí-las, o discurso muda para “este tipo de atividade é muito pesada para mulheres”.

No tocante à produtividade, pode-se notar uma intensa precarização do trabalho no eito da lavoura canavieira. As metas de produção impostas pelas usinas são cada vez maiores, em 20 anos ela mais que dobrou, chegando a 12 toneladas por dia. Isso significa para os (as) trabalhadores (as) um grande esforço físico que levam a dores na coluna, problemas de pele ligadas à quantidade de tempo de exposição ao sol, desidratação, dentre outros problemas, chegando mesmo a causar mortes por excesso de trabalho, fato ocorrido em 2002 na Usina da Pedra. Posteriormente, esta Usina passou a oferecer aos trabalhadores suplementos alimentares como medida para evitar este tipo de ocorrência. O Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Serrana, juntamente com a Usina Nova União, também passaram a oferecer sopa aos trabalhadores. Cabe destacar que a alimentação desta parcela da população é composta basicamente por carboidratos, sendo pobre em proteínas e demais nutrientes.

Neste contexto de modernização o Sindicato perde poder político. Sua preocupação é a de garantir a possibilidade de engajamento da força de trabalho. Assim, passa a mediar empresas e trabalhadores, no sentido de garantir acordos para que as Usinas evitem a mecanização e a terceirização.

Nos debates acerca do aquecimento global é consenso a necessidade de se buscar a redução de poluentes, dos quais se destaca a emissão de gases oriundos de combustíveis fósseis. O etanol, álcool combustível, é uma alternativa à gasolina, pois é menos poluente e constitui-se numa fonte renovável de energia. É justamente nele que o Brasil aposta. Nosso país é hoje responsável por 35% da produção mundial de etanol, o qual é produzido a partir da cana-de-açúcar. O Estado de São Paulo responde por 60% da produção de etanol brasileiro e nele destaca-se a Região de Ribeirão Preto, onde se verifica verdadeiras “ilhas no mar de cana”, como é o caso de Serrana.

Diante desta realidade, este estudo evidencia que embora haja uma necessidade da produção de etanol no âmbito do meio ambiente, o modelo de cultivo de cana-de-açúcar que tem sido empregado é realizado em detrimento da dignidade de seres humanos. Ainda que com novas características, a produção de cana-de-açúcar hoje, no Estado de São Paulo, reproduz certos elementos do passado brasileiro, ou seja, se reproduz a monocultura, latifúndio e escravidão. Tal modelo necessita de revisão, pois trata-se de uma parcela da sociedade brasileira sem acesso à cidadania, demonstrando que nossa inserção na economia mundial se dá alimentando a existência de uma grande dívida social do país.

Autora: Aline Santos é bacharel em Geografia pela Universidade de São Paulo.